quarta-feira, 19 de maio de 2010

HISTÓRIA DE UM BRAVO 14

CAPÍTULO XIV


Tempos depois Sô Chiquito caiu doente com doença grave. Os dias iam e viam e ele só piorando. De certa forma insistia para dar conta de alguns afazeres, andava com o apoio de um bastão com o qual saltava até córrego. Era uma agonia acompanhar seus exageros nas atividades. Entretanto, a partir do momento em que caminhar, mesmo que capenga, ficou impossível, passou a fazer uso de uma cadeira de rodas e era desse modo que vistoriava o curral e, para desespero dos acompanhates, enchia os aros da roda com estrume. Quando até esses passeios foram ficando difíceis, passou a exigir que viessem até ele, dia a dia, para relatar o que ocorria nas suas terras. Iniciou-se dentro de casa um leva-e-traz de notícias, um entra-e-sai de bichos e produtos; alvoroço em demasia só para lhe dar alegria. Nascimento de bezerro era festa, o bicho era levado no colo para ele apreciar; pintinhos recém-saídos das cascas chegavam a ele em cestas assim como peixes graúdos pulando no balaio; colheita de quiabo, alface, abóbora, beterraba, cenoura, enfim, tudo que ele tinha cuidado e plantado lhe era apresentado.

Porém, quando a noite chegava agrado nenhum lhe apetecia. Ocasião em que lhe surgiu a aflição de desejar varar a noite em volta do fogão à lenha atiçando o fogo até o dia começar a clarear. Reclamava que não tinha sono e que ali era o melhor lugar de ficar, olhando as brasas, seguindo as labaredas. No calor do dia colocava as pessoas ajuntando gravetos e lenha, queria estoque perto dele, não podia faltar combustível para o seu fogão. E ficou noite após noite alimentando o fogo. Somente com muita insistência ia para a cama, mesmo assim quando pegava no sono acordava assustado querendo saber se tinham deixado o fogo apagar. Houve noite em que sua obstinação em manter as chamas acesas foi tamanha ao ponto de querer sair da cama, e com dificuldades foi ver o fogão, cismou que o fogo estava apagado.

Continua...

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