sexta-feira, 26 de setembro de 2008

PALAVRAS PRESAS NO PAPEL SÃO REMÉDIOS

  • Escrever faz com que as idéias encontrem coerência. Liberta a alma, surpreende. A chance de voltar atrás, deletar, colocar sinônimos sem dano a nada e a ninguém é impar. Só pensar é um emaranhado meio sem sentido, é aquele rolo embaraçado. As palavras marcadas no papel podem até assombrar, mas só vão ferir depois de muito pensar.
  • Quando as palavras são ditas ao vento, no disse-me-disse, na conversa de comadre, no botequim, na esquina e outras mais, pressupõem-se banalidades, dizeres sem importância. Necessariamente não o são. Seria demais querer todos os faladores escrevendo tudo, não deixa de ser um impropério, mas pode se salvar um numa roda de muitos. Aquela embolada de opiniões, raciocínios interrompidos, e ditos geniais se perdem por aí por vagueação. O olho no passado só é possível por meio das palavras, desenhos, sinais, marcas, são caminhos traçados, que quando achados, lá se vão todos atrás se deliciar de descobertas do remoto.
  • Basta começar, os dedos ficam como que tomados. É possível que haja uns varais com milhares de palavrinhas dependuradas, espiando, esperando, quando lhes dão chance elas vêm e vão ocupando seus lugares, algumas erram o rumo, perdem pedaços, ficam completamente fora do contexto, do texto, e de tudo o mais, a briga para aparecer nas entrelinhas é bem marota. E aqui os dedos vão chamando. Fazer o quê? Quando se gosta das palavras é só invencionice mesmo.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

PODE-SE SER UM MACHADO DE ASSIS?

Machado de Assis era mulato, de origem humilde, epilético, nunca cursou universidade, viveu na época escravocrata, sabia francês mesmo passando praticamente toda a vida no Rio de Janeiro e com apenas 15 anos já publicava poemas na imprensa. Atualmente, com um currículo desses ele conseguiria no máximo uma vaga na universidade pelo sistema de cotas, depois disso talvez empacasse. Mas não, hoje, é considerado, pelos críticos de todo o mundo um autor de primeira linha da literatura mundial. O que ele fez para tal guinada? Tudo levava a crer que ele seria, natural para a época, mais um mulatinho servindo aos senhores. Que mistério é esse?

Em uma das suas biografias vê-se lá: "Machado era ambicioso. Tinha uma noção clara do seu próprio valor. Sabia da sua superioridade em relação aos seus pares da época. Além do que, queria subir socialmente e ter reconhecimento intelectual". Ele sabia que tinha talendo para a escrita mas, sabia também que só isso não bastava. Então trabalhou com tenacidade, extrema dedicação. Dizem que ele não acreditava no improviso, no tudo é fácil. Traçou uma meta e nada o desconcentrou. Ignorou severas críticas por não se envolver nos movimentos abolicionistas e foi em frente. Taí então o pulo-do-gato. Assemelha-se aos mandamentos para o sucesso absoluto em qualquer área que se queira. Pelo menos é o que se vê nos cursos para empreendedores, executivos e por aí a fora.

Todavia, há algo mais, o que se observa é que Machado (olha a intimidade) possuia uma auto-estima invejável, nada abalou sua crença interna, mesmo na contramão da realidade da época, aliou a crença em si mesmo às ações. A dúvida poderia se equivaler a uma gota de limão no leite das possibilidades. O vento a favor foi, sem sombra de dúvida, descobrir o próprio talento, um tento e tanto, a grande maioria das pessoas tombam sem compreender a que veio.

Contudo, quando se alinha todas essas variáveis, que de uma maneira ou outra, ele fez com que lhe fossem favoráveis, e como se isso não bastasse, desconfia-se, pelo resultado da sua obra, que houve também na época uma conjunção astral rara (essa teoria fica por minha conta).
Portanto, conclui-se peremptoriamente: não se pode ser um Machado de Assis, assim, assim.