Após uma doce viagem a chegança se dava pela casa do tio que morava na chácara bem próxima da fazenda. A menina apeava da carroça, mexia com os primos pequenos, um deles preso dentro de um caixote, ou melhor, chiqueirinho, sorrindo para tudo; despedia dos tios e seguia para a fazenda dos avós. Havia somente uma alameda, sombreada por frondosos pés de manga, separando as duas moradas. A menina atravessava esse trecho tomada de sustos por ouvir os ruídos no mato. Eram os calangos aprontando correria pelo chão atulhado de folhas secas fugindo às pressas para os troncos das árvores, pareciam bem mais apavorados com a visita inesperada. Os pássaros também assustados deixavam suas frutas despencarem pelo chão, derrubavam outras e saiam em debandada. Mesmo sendo um percurso pequeno essa algazarra era mais do que suficiente para aumentar o medo, sobretudo por haver uma pequena curvatura no caminho tirando a visão das duas casas trazendo aparente solidão em meio a tanto mato. A imaginação solta e tomada pelo temor judiava da menina e fazia com que os rabos das lagartixas virassem cobras; onça, lobo e outros bichos piores espreitassem por perto prontos para atacá-la. Tudo isso porque era ali, do lado de baixo da alameda, o início de um grande pomar formado por árvores frutíferas bem antigas e por isso muito altas e folhosas. Quase todo o arvoredo esbarrava no céu. A menina apertava os passos para chegar rápido e em segurança até a casa, seu coração sossegava somente após ver a bica jorrando no terreiro da cozinha.
Continua...