quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

UMA MENINA NA ROÇA VI



Dois tios moravam na vizinhança da fazenda e diariamente comercializavam a produção de suas roças na cidade. Sendo que um deles ajuntava também os produtos da fazenda do velho pai fazendo com que a carroça saísse abarrotada de mercadorias, sobrando lugar apenas  para um passageiro junto ao condutor. Havia latões com leite, verduras, frutas, ovos, queijos, doces, mel, rapaduras, cachaças e até galinhas resmungando estrada afora. Já na entrada da cidade a carroça encontrava os primeiros fregueses, em pé nas portas das casas, atraídos pelo som do tropel do cavalo no calçamento pés-de-moleque. Enquanto a comercialização ocorria, rolava risos e prosa entre vendedor e compradores, os acontecimentos dos arredores eram comentados a rodo: quem morreu, quem nasceu, quem casou, quem mudou! Era assim que as notícias corriam.

Quando janeiro chegava a menina arrumava a sacola de roupas e caminhava ao encontro da carona na carroça. O ponto de parada, tanto na chegada da roça quanto na saída, era a casa de uma das tias da cidade. Ali era o local onde o leite seria novamente coado e distribuído pela vizinhança. Quando a carroça chegava já encontrava formada desde muito cedo uma fileira de leiteiras e canecos à espera do leite. Era a maneira prática de segurar lugar sem necessidade de estar presente. A atitude se justificava, visto que na época de seca, quando o leite minguava, as últimas vasilhas às vezes ficavam vazias.

Na volta para a roça a carroça ia leve e solta. Levava somente mantimentos não produzidos por lá,  como o açúcar para os doces, arroz, macarrão, ferramentas, remédios e miudezas em geral. Pegar carona nessas idas e vindas era um divertimento que a menina esperava com satisfação. Ela se deliciava ao ouvir as histórias dos tios pela estradinha, ver de perto cada pedacinho de chão, beber água geladinha na nascente  e ainda ouvir os ecos dos pássaros soando por cima do rio e nos morros.

Continua...

Nenhum comentário: