domingo, 19 de dezembro de 2010

UMA MENINA NA ROÇA VII


Após uma doce viagem a chegança se dava pela casa do tio que morava na chácara bem próxima da fazenda. A menina apeava da carroça, mexia com os primos pequenos, um deles preso dentro de um caixote, ou melhor, chiqueirinho, sorrindo para tudo; despedia dos tios e  seguia para a fazenda dos avós. Havia somente uma alameda, sombreada por frondosos pés de manga, separando as duas moradas. A menina atravessava esse trecho tomada de sustos por ouvir os ruídos no mato. Eram os calangos aprontando correria pelo chão atulhado de folhas secas fugindo às pressas para os troncos das árvores, pareciam bem mais apavorados com a visita inesperada. Os pássaros também assustados deixavam suas frutas despencarem pelo chão, derrubavam outras e saiam em debandada. Mesmo sendo um percurso pequeno essa algazarra era mais do que suficiente para aumentar o medo, sobretudo por haver uma pequena curvatura no caminho tirando a visão das duas casas trazendo aparente solidão em meio a tanto mato. A imaginação solta e tomada pelo temor  judiava da menina e  fazia com que os rabos das lagartixas virassem cobras;  onça, lobo  e  outros bichos piores espreitassem por perto prontos para atacá-la. Tudo isso porque era ali, do lado de baixo da alameda, o início de um grande pomar formado por árvores frutíferas bem antigas e por isso muito altas e folhosas. Quase todo o arvoredo esbarrava no céu. A menina apertava os passos para chegar rápido e em segurança até a casa, seu coração sossegava somente após ver a bica jorrando no terreiro da cozinha.


Continua...

5 comentários:

Bia*-* disse...

A leitura tá leve, gostosa. Tenho me transportado p o Itajuru toda vez que começo a ler. Pena que não vivi esta experiência. Beijo

Marilia disse...

Pois é.....tivemos alguma coisa parecida com o Sitio do Pica Pau Amarelo na nossa infancia.
Realmente foi um privilegio.

everaldo disse...

maravilhoso. eu tive algumas pequenas experiências deste tipo em fazendes e sitios de tios, eu as vejo hoje como uma caminhada numa espécie de paraiso acredito que é o q esta menina na roça teve, feliz dela de poder ter ido ao paraiso e sobretudo de poder relatar com tanta maestria este fato....

JACN - BH disse...

Iza: Muito bom.
Tenho frequentado seus escritos, mas não comentando para não ficar repetitivo.
Hoje indiquei este seu blog como modelo para o meu irmão, que vai criar o dele também. Foi o melhor exemplo que achei naminha (extensa) lista.

Mariza Guerra disse...

Amigos,
Obrigada pelo incentivo!