domingo, 17 de agosto de 2008

AO AMIGO

Força ou energia moral que leva a afrontar os perigos, valor, destemor, ânimo, bravura, intrepidez. São sinônimos de coragem segundo o dicionário Larousse. São palavras fortes que definem atitudes valorosas tomadas em prol de muitos ou de poucos. Para salvar o outro, pelo bem comum. Agora, quando se toma uma atitude pelo bem próprio, a coragem dá reviravolta, a busca de um bem querer se transforma em ato egoístico quando significa deixar um ou outros em solidão, em rejeição, simplesmente para se salvar. Ato impróprio. Não digno. Há o que pensar de diferente disso sobre quem avisa que não dá mais? Que está indo? Não há o que julgar. Aquele que deixa alguém ou algo, que sai, que arrisca, provoca em muitos a inveja da coragem transmutada em condenação.

Os bravos não avaliam se vale a pena o risco, garantias de sucesso não é o que importa. Mas, o que é valer o risco mesmo? Deixar o que está ruim ou obter certeza da melhor escolha a ser feita? Não importa muito.  O corajoso possui mérito na tentativa pela tentaviva. Ser solidário com o perdedor, com o abandonado, com o descartado é chato. A autocomiseração alheia não nos favorece em nada. Aquele olhar de vítima, de injustiçado provoca nos outros mais certeza ainda que ser deixado para trás foi merecido.

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

CASAMENTO DÁ CERTO?



Ao dar a notícia da sua recente separação à idosa e simpática tia, Olavo obteve a óbvia indagação: _ Mas, já? Por que meu filho? _ É tia, infelizmente meu casamento não deu certo. E a tia com um sorrisinho maroto, talvez pelo fato de ter vivido um longo casamento, até ficar viúva, retrucou: _ Meu filho, casamento não dá certo mesmo não.

Sem a pretensão em aprofundar na subjetiva conclusão da tia do Olavo, pode-se desconfiar que a velhinha praticara, ao longo da extensa vida conjugal, pelo menos, um dos tipos de amizade da teoria aristotélica. Os tipos de amizade afirmados pelo filósofo baseiam-se no amor necessário, no amor prazeroso e no amor pelo bem. Trazer estas formas de amizade para um longo relacionamento pode contribuir para racionalização das relações, diminuindo assim, expectativas de um amor idealizado. Segundo a teoria, tanto a relação baseada na utilidade quanto a baseada no prazer são efêmeras, pois quando cessa o motivo, a união tende a desaparecer. Já a fundamentada no amor pelo bem é a mais duradoura, porém a mais rara.

-O amor necessário, também descrito como útil, é aquele que facilita pensamentos, ações e apoio nas fragilidades de cada um, o parceiro passa a ser um meio não um fim. Ama-se pelo que é bom para si.

-O prazeroso é semelhante ao amor necessário, busca-se o prazer recíproco e imediato. Quando uma das partes deixa de ser agradável ou útil, a outra deixa de amá-la. Dá-se amor na medida em que o outro é agradável para si.

-No modelo de amor pelo bem, ama-se o outro pelo que ele é. O desejo de fazer o parceiro feliz prevalece.  É próprio de relações recentes. Porém, quando as pessoas são expostas umas às outras, cotidianamente, a possibilidade de amor pelo bem diminui consideravelmente. Observa-se pouca frequência dessa forma de amor.

O casamento-que-não-dá-certo do sobrinho da velhinha em algum momento deixou de ser útil, de ser agradável e o amor pelo bem, caso tenha existido, se dissolveu. A pressa por resultados imediatos, a intolerância ou a razão equivocada para estarem juntos podem ter entediado o jovem casal em tempo recorde. Fica, porém, a dúvida se a tia, ao longo da sua união, transitou por todos os modelos da teoria aristotélica ou se conteve e viveu a amizade útil, muito comum na sua época. Mesmo por que, não importa a forma de amor escolhida por ela para viver, pois a resposta dada ao sobrinho revela não ter havido espaço para as formas de ódio, tão comum na atualidade.

O casamento de Sartre com Simone de Beauvoir é um modelo muito citado como ideal de relacionamento amoroso. Contudo, são opiniões baseadas em pouco conhecimento sobre a vida do excêntrico casal, basta ler a biografia de ambos para entender. Entretanto, raros são os que levam adiante tamanho feito, tanto pela forma quanto pelo tempo em que durou. Pois bem, eles fizeram um contrato de dois anos quando eram jovens, ele com 23 e ela com 21 anos. A proposta de Sartre para Simone foi a seguinte: _Entre nós, trata-se de um amor necessário: convém que conheçamos também os amores contingentes. O amor necessário os uniu por cinquenta anos, reconhecidamente eles moravam em casas separadas e tinham incontáveis amantes. Para eles e para todos foi um casamento que deu muito certo. Alguém se habilita? Talvez seja mais difícil manter um casamento à la Beauvoir.









segunda-feira, 4 de agosto de 2008

PLAtÃO, PupiLO de sÓcRaTEs, mEsTre de ArisTÓtEleS

Começar pela Teoria das Ideias de Platão traz no mínimo respaldo para que nem todo tudo aqui dito seja uma completa bobagem. Platão acreditava numa realidade autônoma por trás do mundo dos sentidos. A esta realidade ele deu o nome de mundo das ideias. Nele estão as "imagens padrão", imagens primordiais, eternas e perfeitas, de tudo aquilo que encontramos na natureza. Seriam formas imutáveis. No mundo das ideias, um cavalo terá quatro patas mesmo que no mundo dos sentidos todos os cavalos fiquem mancos de uma pata. Para Platão, o homem é um ser dual, possui a alma, que antes de habitar o corpo existia no mundo das idéias. Já o corpo pertence ao mundo dos sentidos, portanto imperfeito.

O que esta fora do mundo das ideias está no mundo dos sentidos. Se dissermos que vimos ou percebemos algo está aí o início de um conhecimento aproximado ou uma opinião incerta. Neste mundo de sentidos as coisas surgem e desaparecem. E quase sempre não podemos confiar em nossos sentidos. Somente por meio da razão é que podemos chegar a um conhecimento seguro. Ter razão é o oposto de achar e sentir. Ter razão é afirmar que dois mais dois são quatro,  são dados eternos e universais, é uma mesma razão para todas as pessoas.

Platão achava que, quando as pessoas entram em contato com as formas da natureza, há um despertar da alma, como um voo até o mundo das ideias. Nascendo aí o anseio de retorno a casa. Platão chamava este anseio de eros, que significa amor. Para ele, se houvesse comparação do mundo das ideias com o mundo dos sentidos, este seria bem sombrio.

O que sabemos é que a maioria se apega sobremaneira aos reflexos do mundo das ideias no mundo dos sentidos e se dá por satisfeita. Há aqueles ainda, que preferem habitar somente no mundo dos sentidos com certezas absolutas ou opiniões formadas sobre tudo, como disse Rauzito. Diante disso, a recomendação básica é que o Mito da Caverna deve se lido e relido. Por meio dessa alegoria, Platão exemplifica a sua teoria  sobre o aprisionamento dos sentidos. Despertar a clareza dos pensamentos é um dos príncipios da Filosofia,  é essa a busca de todo filósofo,  entender o que é eterno com o uso da razão, pena que poucos se aventuram nesse deleite. Pois, tratados, diálogos e academias  para falar de bolhas de sabão é o que mais se vê.