segunda-feira, 11 de agosto de 2008

CASAMENTO DÁ CERTO?



Ao dar a notícia da sua recente separação à idosa e simpática tia, Olavo obteve a óbvia indagação: _ Mas, já? Por que meu filho? _ É tia, infelizmente meu casamento não deu certo. E a tia com um sorrisinho maroto, talvez pelo fato de ter vivido um longo casamento, até ficar viúva, retrucou: _ Meu filho, casamento não dá certo mesmo não.

Sem a pretensão em aprofundar na subjetiva conclusão da tia do Olavo, pode-se desconfiar que a velhinha praticara, ao longo da extensa vida conjugal, pelo menos, um dos tipos de amizade da teoria aristotélica. Os tipos de amizade afirmados pelo filósofo baseiam-se no amor necessário, no amor prazeroso e no amor pelo bem. Trazer estas formas de amizade para um longo relacionamento pode contribuir para racionalização das relações, diminuindo assim, expectativas de um amor idealizado. Segundo a teoria, tanto a relação baseada na utilidade quanto a baseada no prazer são efêmeras, pois quando cessa o motivo, a união tende a desaparecer. Já a fundamentada no amor pelo bem é a mais duradoura, porém a mais rara.

-O amor necessário, também descrito como útil, é aquele que facilita pensamentos, ações e apoio nas fragilidades de cada um, o parceiro passa a ser um meio não um fim. Ama-se pelo que é bom para si.

-O prazeroso é semelhante ao amor necessário, busca-se o prazer recíproco e imediato. Quando uma das partes deixa de ser agradável ou útil, a outra deixa de amá-la. Dá-se amor na medida em que o outro é agradável para si.

-No modelo de amor pelo bem, ama-se o outro pelo que ele é. O desejo de fazer o parceiro feliz prevalece.  É próprio de relações recentes. Porém, quando as pessoas são expostas umas às outras, cotidianamente, a possibilidade de amor pelo bem diminui consideravelmente. Observa-se pouca frequência dessa forma de amor.

O casamento-que-não-dá-certo do sobrinho da velhinha em algum momento deixou de ser útil, de ser agradável e o amor pelo bem, caso tenha existido, se dissolveu. A pressa por resultados imediatos, a intolerância ou a razão equivocada para estarem juntos podem ter entediado o jovem casal em tempo recorde. Fica, porém, a dúvida se a tia, ao longo da sua união, transitou por todos os modelos da teoria aristotélica ou se conteve e viveu a amizade útil, muito comum na sua época. Mesmo por que, não importa a forma de amor escolhida por ela para viver, pois a resposta dada ao sobrinho revela não ter havido espaço para as formas de ódio, tão comum na atualidade.

O casamento de Sartre com Simone de Beauvoir é um modelo muito citado como ideal de relacionamento amoroso. Contudo, são opiniões baseadas em pouco conhecimento sobre a vida do excêntrico casal, basta ler a biografia de ambos para entender. Entretanto, raros são os que levam adiante tamanho feito, tanto pela forma quanto pelo tempo em que durou. Pois bem, eles fizeram um contrato de dois anos quando eram jovens, ele com 23 e ela com 21 anos. A proposta de Sartre para Simone foi a seguinte: _Entre nós, trata-se de um amor necessário: convém que conheçamos também os amores contingentes. O amor necessário os uniu por cinquenta anos, reconhecidamente eles moravam em casas separadas e tinham incontáveis amantes. Para eles e para todos foi um casamento que deu muito certo. Alguém se habilita? Talvez seja mais difícil manter um casamento à la Beauvoir.









2 comentários:

Anônimo disse...

Ou seja: uma boa historia é como vinho, que o tempo só melhora. Mas a maioria vira mesmo é vinagre. O mais triste é ver tanta gente bebendo vinagre e fazendo cara de paisagem.....rs....

everaldo disse...

acho q esta tia tinha um aristoteles sim em sua vida.... a união de 2 humano quase sempre é marcada pelas ações vinda de fora e não as de dentro. talvez se nós tivessemps menos vaidade pessoal e tentassemos aceitar as pessoas e a vida como elas são, acho q o casamento seria um fato importante em nossas vidas. dizem q a vida é para ser vivida e não para ser sofrida. será?