domingo, 9 de maio de 2010

HISTÓRIA DE UM BRAVO 11


CAPÍTULO XI


Continuava a dirigir mal. A bem da verdade nunca se soube se alguém lhe ensinou a dirigir. Problemas na visão não restavam dúvidas que ele tinha, pois teimava em continuar a usar os óculos de camelô. De algum modo possuía carteira de motorista, ficou com a mesma por décadas, nunca renovou. Nos períodos de fiscalização na estrada de acesso à cidade todos o avisavam para se aquietar na roça, evitar problemas. Havia um guarda camarada, ciente da situação, que lhe dava uma pista em qual dia deveria se recolher por causa da blitz. Mesmo assim foi pego pelos rodoviários algumas vezes. Alegava, indignado, que estava trabalhando, saiu apressado e por causa disso os documentos tinham ficado para trás. Fazia teatro mostrando as roupas sujas, botas enlameadas, chapéu suado. Se os guardas fossem de fora da cidade lhe davam multas sem conversa, aí ele esperneava, era certo. No caso de patrulha conhecida era mais fácil, sobretudo após a demonstração do labor. Conseguindo a compreensão dos guardas, agradecia a liberalidade oferecendo umas verduras recém-apanhadas e a promessa de umas galinhas gordas, dizia que era só passar na fazenda. Nesse caso os guardas se contentavam em buscar as prendas e deixar Sô Chiquito prá lá. Conseqüentemente a ilegalidade da carteira vencida comemorava mais um aniversário.

Continua...

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