terça-feira, 2 de novembro de 2010

UMA MENINA NA ROÇA

I

A fazenda dos avós distava poucos quilômetros da cidade, talvez uns seis, mas para uma menina parecia uma longa viagem. Não havia caminho mais bonito, o percurso era feito normalmente de carro, mas melhor mesmo se o passeio fosse de carroça. A estrada de terra era estreita, bem arborizada, parecia um túnel verde com os barrancos cobertos de plantas. Não vivia só de buracos, havia trechos de chão lisinho com fina camada de areia fazendo com que a carroça deslizasse com o galope do cavalo, daí era só abrir o sorriso e aproveitar a gostosura. Quando de carro, o motor parecia desligado de tão suave. No carro a melhor brincadeira da meninada era ganhar a janela, colocar a cabeça para fora e apostar que galho algum acertaria a cara, nem sempre se ganhava essas apostas. A demora em perceber um galho se aproximando garantia uns arranhões além dos risos dos companheiros.


O rio parecia querer brincar ao seguir a estrada todo o tempo. Havia trechos em que a água insistia em serpentear as beiras fazendo a estradinha se apertar nas curvas trazendo beleza e medo. Momento de histeria era quando se aproximava a travessia da ponte velha e estreita; dava um frio na barriga, a boca calava e aí se corria o olho para baixo sem querer olhar, mas sem querer perder a grandeza da visão. Era de relance que se contemplava uma água escura com promessa de muita fundura, de morte certa no caso de queda. Uma dúvida se instalava naquele instante: será que a ponte vai cair logo agora? Seguindo em frente com menos temor, somente não desejando sorte pequena de topar com outro veículo. Se tal fato ocorresse um teria que se enfiar mato adentro, subir barranco, escapar de precipício para dar passagem ao outro. Fazer cavalo que puxava carroça entender essa manobra era um Deus nos acuda, o bicho dava pinote e fincava na teimosia, perigava muitas vezes até cair rio abaixo.

Continua...

3 comentários:

Unknown disse...

Ai, que delicia!!!Me vi indo pra fazenda de vovó, levada pelo Sena da época (Tio Zezé), eximio na conducao da carroca. Lembro dele sempre muito alegre,nos conduzindo com delicadeza e gentileza,como se fossemos passageiros ilustres. Otima lembranca!Ficou otimo.....continue!!!

Bia*-* disse...

Adorei. Eu não lembro desses passeios pois sou muuuiiiiito mais nova! Beijo grande, continue escrevendo, senti falta dos seus textos.

everaldo disse...

Deliciosa leitura das aventuras desta menina na roça, menina esta q acredito ter sido privilegiada com uma infância livre, descontraida, singela, alegre, divertida e simples.Dizem os que entendem da vida, q não é o meu caso," as grandes e profundas emoções emanam de situações e ambientações simples, onde se afloram os reais sentimentos de prazer e felicidade".......