domingo, 7 de março de 2010

HISTÓRIA DE UM BRAVO 2

CAPÍTULO II

Já deu até tiro. Foi no prostíbulo da cidade. Mas foi por justa causa, melhor dizendo, foi para lavar a honra do irmão. O irmão tocava um pequeno hotel com a mulher. A mulher conta pro marido que o viajante do quarto tal tinha lhe faltado com o respeito. A confusão estava armada. Sô Nonô, o marido, procurou o irmão, Sô Chiquito. Combinaram tudo. Não se sabe quem animou quem. Ambos deduziram que o safado só podia ter ido para a zona, rumaram para lá com armas em punho. Foram chegando e chutando portas, o libertino quando viu a cara dos justiceiros, ainda mais com armas em punho, pulou da janela com a roupa que Deus deu, já com bala na carne. Foi gritaria de mulher misturado com todo tipo de grito. Quando a dupla viu que acertou quem queria, pulou fora. Tinham que escapar da polícia. Aí teve companheiro que emprestou o carro, teve outro que dirigiu o carro, outro ainda que arranjou esconderijo. Ficaram fugidos uns dias até tudo se acalmar. Quando se apresentaram, já contavam com advogados, o jeito era esperar o processo correr. E veio a data do julgamento, todos os quatro envolvidos foram indiciados. Os dois atiradores, o motorista e o amigo que emprestou o carro. A cidade parou, quem diria, quatro cidadãos em defesa da ordem na família sentados em bancos de bandidos e assassinos. A opinião geral era que se o tiro não matou, só machucou, então tinham que ser perdoados. Mas a família da vítima queria justiça, o descarado alegou que não cantou a mulher do atirador, palavra de um contra o outro, só juiz mesmo. O pior foi que eles saíram condenados. Do fórum direto para a cadeia. Foi um Deus nos acuda. Sô Chiquito enjaulado, preso. Difícil de acreditar. Será que ele esperneou muito? Queriam saber. Nada disso, ele era bravo, mas não era sem idéia, onde já se viu esbravejar com polícia? A bem da verdade, alguns anos depois ele quis matar um sargento, mas aí já é outra história. Voltando à história da condenação; quarenta dias atrás das grades. Teve recurso. A cidade vivia em polvorosa, só se falava do caso, a porta da cadeia virou atração, tinha até fila para visitação. Os condenados ficaram numa cela ampla, longe dos outros presos, camas arrumadíssimas, porta da cela só encostada, sem cadeado. Nunca se viu cela tão especial para tantos iletrados. Foi providenciado até garrafa de pinga, ficava escondida na caixa de descarga, o carcereiro também tomava a dele no final da tarde. Para completar as primazias veio ordem do prefeito: _Televisão para os quatro. Justíssimo. Era época da Copa do Mundo de 70. As famílias de todos assistiram aos jogos na cadeia, não deixou de ser festa. Expectativa geral, segundo julgamento, será que saem livres? Saíram. Seis a um. Por muito tempo Sô Chiquito ficou cogitando quem foi esse um: _ Esse filho da puuuuuta, que absurdo, votou contra eles, chamava-o de sem mãe, os companheiros não estavam preocupados com isso não. A saída do fórum foi uma apoteose. Já no carro, em direção a casa, Sô Chiquito mais parecia político com eleição ganha, onde passava tinha gente na janela acenando. Até hoje a história é contada na família. Neto cresce sabendo que o avô já foi preso.

continua....

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