domingo, 7 de março de 2010

HISTÓRIA DE UM BRAVO

Um tempo para outras paragens....

HISTÓRIA DE UM BRAVO

CAPÍTULO I

 Sô Chiquito tinha fama de bravo, de pavio curtíssimo mesmo. Fregueses da sua venda eram bem tratados enquanto não manifestavam reclamação, aqueles que devolviam alguma mercadoria eram colocados  porta
afora sem cerirmônia. Dos caixeiros viajantes somente o representante da Cica, marca de sucesso de vendas, era bem tratado, os outros agüentavam toda sorte de impropérios, era curto e grosso para dizer que não precisava de determinada mercadoria, só os sem juízo insistiam. Os desavisados que o procuravam em casa, depois do expediente para entregar produtos tinham os cachorros abocanhando as calças. Punha palavrão junto: _ Cambada de filhos da puuuuuta! Não respeitam meu descanso, eu lá quero saber se precisam seguir viagem ainda hoje? Nunca se sentou em banco de escola, aprendeu a ler na roça com luz de lamparina tendo a mãe como professora. Quem convivia com ele achava que a escola teria resolvido essa falta de traquejo para tratar as pessoas, para alguns, a teoria da socialização o teria salvo dessa impaciência generalizada. O curioso é que ele tinha o hábito da leitura, era o momento sagrado para o jornal Estado de Minas cuja leitura era após seu almoço de marmita nos fundos da venda. Ai de quem interrompesse essa pequena sesta. Diziam que o jornal tinha um furo no meio que a leitura era só para enganar os bobos,  a intenção era ficar de olho no balcão. Mas isso era folclore, ele lia mesmo. Contudo era um hábito difícil de compreender diante do jeito tosco que demonstrava ser, pode-se dizer que era o avesso do avesso. Só deixou o jornal quando a vista ficou ruim, como achava que médico não sabia nada, comprou uns óculos de camelô. Continuou sem enxergar, com os mesmos óculos, até o fim da vida.

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